sábado, 16 de fevereiro de 2019

IV – Nilton Paulo – o principal implicado

1. Nilton Paulo numa intrincada rede de suspeições 
Nilton Paulo Vilela de Castro, nasceu em Bauru, aos 03 de maio de 1947, filho de Paulo de Castro Marques e Pautila Vilela Marques, comerciante, residente à Rua Bandeirantes, 8-54, Bauru – SP. 
No início dos anos de 1970, Nilton Paulo era o tipo jovem ostentação na sociedade bauruense, namorador, visto como 'filho complicado de pai rico', tido usuário de drogas, acobertado pela família e vistas grossas das autoridades, sem antecedentes policiais, embora envolvido num acidente de carro, por ele dirigido, quando menor.
Na idade de 18 anos Nilton Paulo possuía carro próprio e era nome certo nos bares da noite e baladas. Seu proceder e modo de vida despertava ciúmes e críticas, sobretudo de policiais militares indignados diante dos protecionismos a ele dispensados pelas autoridades, às custas da influência e bons relacionamentos do pai.
Os comentários eram muitos, que Nilton Paulo desde algum tempo usava o imóvel desocupado de seu pai, à Rua Professor José Ranieri, 8-61, como ponto para se drogar e levar garotas para sexo, algumas menores, ocorrências estas por si suficientes para tê-lo suspeito, tão logo encontrado o cadáver de Mara Lucia naquele endereço, admitindo-se que ele a tenha atraído, de alguma maneira, para fins libidinosos e isto culminado em morte da menina.
Mas, Nilton Paulo não foi o primeiro Castro Marques suspeito na eliminação de Mara Lucia, posto precedido pelo tio Edgard, e somente após ser este descartado pela polícia, por óbito antes do ocorrido, os rumos das investigações recairiam sobre si, mesmo não conhecendo a vítima o suficiente para trazê-la até o lugar, de modo pacífico, andando por algumas ruas de Bauru, sem o risco de ser notado. 
Nilton não foi reconhecido pela testemunha como aquele visto ao lado da menina, nas confluências dos logradouros Benjamin Constant com a Professor José Ranieri. 
O Inquérito Policial 10/71 não esclarece por qual razão as suspeições sobre os Castro Marques, e nem a Polícia Militar justificou motivos para uma investigação paralela apontando o envolvimento de Nilton Paulo. 
As duas polícias divergiam-se quanto a culpabilidade do investigado; para a civil os tantos álibis apresentados eram suficientes para excluí-lo do rol dos suspeitos, mas, para a militar, cuja investigação sob responsabilidade do soldado ou cabo Irineu Avelino de Barros, o jovem era o principal implicado, e assim concordavam outros colegas de farda – dos não graduados oficiais, entre eles o Felizardo Félix da Silva, principal acusador, quase às raias da obsessão.

1.1. Um pai rico e influente
As elites, na 'Era Vargas' (1930/1945) e nos tempos do Regime Militar (1964/1985), sustentaram a estrutura republicana e, com isso, não apenas garantiam acessos aos recursos públicos, como fomentavam as impunidades e as influências junto aos Legislativo, Executivo e o Judiciário.  
Antes da tomada do poder pelos militares a classe empresarial temia que o Governo Goulart implantasse no país uma república sindicalista, sequência de suas pretensões quando Ministro do Trabalho no governo Vargas. 
O golpe de 1964 teve a participação da sociedade civil, representada pelos donos de empresas, conhecidos como 'empresários da ditadura', que apoiavam a política de repressão do estado, financiando prisões, torturas e assassinatos de membros da esquerda armada ou de grupos ideológicos, além das caças às classes operárias cujos líderes inclusos nas 'listas negras' do regime.
Bauru teve seus apoiadores e sustentadores da revolução de 1964, e se chegou a cogitar, entre eles, o empresário conservador Paulo de Castro Marques, filho de Carlos Marques da Silva, um importante nome social e político bauruense no final do século XIX e início do seguinte.
Paulo Marques era um empresário bem-sucedido, casado com Pautila Vilela Marques, de cuja união nascidos os filhos, Nilsen Maria, Nilton Paulo e Nelson Carlos.
Voz corrente, insinuações e verdade que se misturam, o excesso de proteção do pai ao filho Nilton Paulo era notório, e o envolvimento deste no 'Caso Mara Lucia' custou-lhe fortuna, recorrendo a empréstimos bancários e se desfazendo de muitos de seus bens , para cobrir achacadores, policiais e autoridades, no livramento do filho, por um crime que ele, Paulo Marques, assim apontado, dera causa ao meter-se numa aventura extraconjugal.

2. Depoimentos controversos
2.1. A denúncia do policial militar Felizardo Félix da Silva  
Felizardo Félix da Silva, policial militar do Estado de São Paulo, brasileiro, branco, casado, idade de 33 anos, nascido aos 02 de novembro de 1937, no município de Atalaia (AL), filho de Olímpio Félix da Silva e dona Olavia Souza da Silva, residente em Bauru à Rua Capitão Gomes Duarte, 26-78. 
Como militar destacado para 1ª Cia. de Bauru servia no policiamento de trânsito, na fiscalização de 'entradas e saídas' da cidade, com ponto na Avenida Duque de Caxias esquina com a Rua Xingu, quadra 7, nas proximidades com o Grupo Escolar 'Mercedes Paes Bueno', horários das 7,00 às 8,30, das 11,30 às 12,30 e das 15,20 às 17,00.
O Felizardo não inventara nenhuma suspeita que Nilton Paulo fosse ou não o autor do crime que vitimara Mara Lucia; muitas pessoas em Bauru não duvidavam ser ele o assassino, por razões torpes, e a polícia civil trabalhava com a hipótese de possivelmente ser ele o assassino, enquanto a militar esforçava-se para colocá-lo na cena do crime. 
O policial Felizardo, no entanto, tinha argumentos adicionais que poderiam implicar o Nilton Paulo, pois que o fiscalizara numa infração de trânsito na tarde de 11 de novembro de 1970, quando dirigia o veículo marca Chevrolet, perua, ‘C-14’ cor azul, placas nº 3167, sentido cidade para a rodovia Marechal Rondon, com velocidade superior à permitida no local
Parado o veículo, o militar reconheceu Nilton Paulo Marques, verificou a documentação do condutor e do veículo, tudo em ordem e o carro apto para o trânsito, fez recomendações ao motorista quanto ao excesso de velocidade e não o autuou. 
Nisto, nenhuma implicação relacionada ao crime contra Mara Lucia, no entanto, os falatórios populares crescentes que o Nilton seria o assassino, a argúcia policial investigativa de Felizardo o levou ao Alencar Pelegrini Gandara, funcionário da Gráfica Comercial de propriedade de Paulo de Castro Marques, o pai de Nilton Paulo, num encontro aparentemente casual e pode comentar as boatarias que o filho do empresário estaria envolvido no delito, tendo o Alencar argumentado quanto a impossibilidade do feito, pois o jovem trabalhara na empresa, naquele 11 de novembro de 1970, até as 17,30 horas. A conversa teve como testemunha Laudze Garcia Menezes, Segurança da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – Agência de Bauru.
O militar, aparentemente satisfeito com a informação de Alencar, reagiria posteriormente quando as senhoras do Rotary Clube de Bauru fizeram publicar, nos jornais da cidade, 'Nota de Esclarecimento' que o Nilton Paulo, aos 11 de novembro de 1970, estivera na parte da tarde, com sua mãe, numa feira de artesanatos em Botucatu.
Em novo encontro com Gandara, o Felizardo questionou-o da contradição, pois se o filho do patrão trabalhara na gráfica na tarde daquele dia, não poderia o mesmo estar presente em Botucatu, e o arguido então justificou-se que não ia comentar o assunto para não se complicar com o empresário, encerrou a conversa e retirou-se. Outra vez testemunhou o Laudze Garcia Menezes.
As divergências levantadas por Felizardo Félix quanto ao Nilton Paulo estar ou não em Bauru naquele 11 de novembro de 1970, tornou o jovem ainda mais culpado perante a opinião pública, e ao mesmo tempo revelar a polícia civil incompetente e as autoridades subservientes às influências de Paulo Marques. 
Dois investigadores da polícia da capital procuraram o Felizardo ouvindo-o informalmente, aos 17 de dezembro de 1970, e este os acompanhou até a Agência da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil – Bauru, para conversas com Laudze, se este confirmava o encontro entre Felizardo e Alencar Gandara. Confirmado os dois encontros, mas no segundo Laudze nada ouviu, mantendo-se à distância.
Aos 18 de dezembro de 1970, Felizardo prestou depoimento na Delegacia de Polícia do Município de Bauru, na presença da autoridade policial, o delegado dr. José Francisco Bastos Silva, e preliminarmente esclareceu à citada autoridade que na tarde do dia anterior esteve numa conversa com o delegado de polícia, dr. José Geraldo Cremonesi, que lhe mostrou seis fotos perguntando se conhecia algumas das pessoas retratadas, sabendo de algumas, mas que entre elas não estava o Nilton Paulo, no ato contestado pelo delegado que apontou, dentre as fotografias, uma que seria a do Nilton Paulo, de cabelo curto e bigode, bastante diferente do jovem que se conhece, de cabelos longos e sem bigodes, aliás deste detalhe último não se recordava do uso ou não quando da fiscalização de trânsito.
Informou ainda o Felizardo nada ter contra Nilton Paulo, o cumprimenta sempre e de nada pode acusá-lo, sem qualquer elemento para isso, apenas que o fiscalizou em 11 de novembro de 1970, por volta das 15,20 e 15,40 horas, na Avenida Duque de Caxias com a Rua Xingu. 
Para Felizardo causou estranheza que Alencar Gandara, funcionário da Tipografia Comercial, do pai de Nilton, lhe tivesse dito que o jovem trabalhara na empresa, até o final do expediente no dia 11 de novembro de 1970, sem qualquer saída, em contradição com a publicação posterior em jornais, pelas senhoras do Rotary Clube de Bauru, que naquela data Nilton estava em Botucatu, acompanhando a mãe, numa feira de artesanato, afora a certeza da fiscalização de trânsito ocorrida naquela data. 

2.2. O depoimento de Alencar [Pelegrini] Gandara 
Alencar Gandara, brasileiro, casado, 35 anos (03/01/1935, Bauru), filho de João Manoel Gandara Pelegrini e Malvina Rodrigues Gandara, residente à Rua André Padilha Sobrinho, 2-50, Bauru (SP), comerciário empregado na Tipografia Comercial, de Paulo de Castro Marques. 
Citado no depoimento do policial militar, Felizardo Félix da Silva, prestou depoimento na Delegacia de Polícia do Município de Bauru, aos 18 de dezembro de 1970, estando presente a autoridade policial, o delegado Bastos Silva.
Sem se lembrar em qual data, na parte da manhã, Alencar estacionou a 'perua' Chevrolet – C-14 de seu patrão defronte à Agência do Banco Bradesco S/A, de Bauru, quando interpelado por um policial militar, conhecido de vista, mas não de nome: "está havendo um boato na rua que o filho de seu patrão é o assassino da menina"; e se recorda de sua resposta: "não é possível que ele fizesse uma coisa dessas, que ele seria incapaz de fazer isso". 
O policial então insistiu com Alencar querendo saber se Nilton Paulo trabalhara no dia anterior, e então a resposta: "não, ontem ele não trabalhou, e hoje, até agora ele ainda não chegou". 
Querendo a situação a limpo e preocupado com as perguntas de Felizardo Félix, o Alencar teria indagado do empresário Paulo Marques onde se metera o Nilton Paulo, no dia anterior, então esclarecido que o jovem fora a Botucatu levar a mãe à feira de tapetes e outros artesanatos. 
Alencar, num dia que não se recorda, foi outra vez abordado pelo mesmo policial, informando que havia fiscalizado Nilton Paulo naquele dia, 11 de novembro de 1970, na Av. Duque de Caxias, e lhe deu como resposta: "como é que você o fiscalizou, se ele se encontrava em Botucatu?", deixando o local.
Segundo o Alencar, Nilton Paulo e ele trabalhavam juntos, diariamente até as 17,30 horas, mas não se recorda ter dito que o jovem trabalhara em determinado dia, 11 de novembro de 1970, até o final do expediente.
Corrigiu o final do depoimento:
"Que o depoente esclarece que, quando o Policial Militar lhe perguntou se Nilton Paulo havia trabalhado no dia anterior [11/11/1970], o depoente respondeu que sim, mas que, naquele dia, de manhã, até aquela hora ele, Nilton Paulo não havia ido trabalhar, ocasião em que perguntou ao seu patrão por Nilton Paulo, o qual respondeu que ele havia ido a Botucatu levar sua esposa (...) esclarece ainda que naquele dia, Nilton Paulo, até às 17,30 horas em que o depoente foi embora, não havia voltado de Botucatu."
A correção, bastante contraditória, faz duvidar que o Nilton Paulo tenha se ausentado de Botucatu em 11 de novembro de 1970.

2.3. Acareação entre Felizardo Félix e Alencar Gandara
As diferenças anotadas nos depoimentos do comerciário Alencar Pelegrini Gandara e do policial Felizardo Félix da Silva, acerca de onde estava Nilton Paulo quando do sequestro, morte e estupro de Mara Lucia, o delegado dr. Bastos Silva determinou acareação entre ambos, no mesmo dia 18 de dezembro de 1970, na Delegacia de Polícia do Município de Bauru . 
O policial militar Felizardo dissera em seu depoimento que no dia 16 ou 17 de novembro de 1970, quando voz corrente em Bauru que Nilton Paulo era o autor do delito, estando na Rua 13 de Maio em companhia de Laudze Menezes, empregado da Ferrovia Noroeste do Brasil – escritório local, viu e chamou Alencar Gandara, empregado na tipografia de Paulo de Castro Marques, questionando-o acerca dos boatos que implicavam o filho do patrão, tendo o interpelado respondido não ser possível, pois trabalharam juntos até as 17 ou 17,30 horas naquele dia, 11 de novembro de 1970, sendo o Nilton o encarregado da seção.
Ainda, segundo Felizardo, alguns dias depois noticiou-se que senhoras do Rotary estiveram com o Nilton Paulo, em Botucatu, aos 11 de novembro de 1970, por volta das 16,30 horas, portanto impossível que o mesmo pudesse se encontrar na gráfica naquele dia. 
Coincidentemente, Felizardo outra vez em companhia de Laudze de Menezes avistou Alencar e o chamou: "Como é isso, você disse que o filho do seu patrão estava, naquele dia, até às 17,30 horas na secção da tipografia, e as mulheres o encontraram às 16,30 horas em Botucatu, como é isso?", e o indagado teria respondido "eu não vou mais comentar esse negócio aí, porque o patrão pode pensar que a gente está trabalhando contra ele aí e não vai dar certo", para em seguida retirar-se.
Alencar, por sua vez, informara que em data que não se recorda, estacionara o veículo que dirigia defronte ao Banco Brasileiro de Descontos – Bradesco S/A, quando abordado pelo militar Felizardo Félix da Silva: "está havendo um boato na rua que o filho do seu patrão é o assassino da menina [Mara Lucia]", e ele respondido não ser possível que Nilton Paulo fizesse algo semelhante por ser  incapaz de cometer ato igual, e outra vez inquirido: "ele trabalhou ontem?", com resposta positiva, mas, que naquele dia em que se encontraram ainda não havia ido trabalhar até aquela hora.
De certa forma as indagações e colocações do policial militar suscitaram dúvidas em Alencar que não hesitou perguntar ao patrão porque Nilton Paulo não havia ido trabalhar naquele dia, 11 de novembro, e obteve como resposta que o rapaz fora levar a mãe até Botucatu.
Alencar tornou a encontrar o Felizardo que outra vez lhe dirigiu a palavra: "como é que está[?]", repostando-lhe não saber, e o policial militar a insistir: "é, que eu fiscalizei ele, naquele dia, na Av. Duque de Caxias", e daí o contrargumento de Alencar: "como é que você o fiscalizou se ele se encontrava em Botucatu?". 
Ainda, informou Alencar não se recordar de haver dito ao Policial Militar, que em determinado dia, que não se recorda, Nilton Paulo ter trabalhado até às 17,30 horas; mas, que trabalha com o filho do patrão. ambos na mesma seção, até as 17,30, em dias de expediente.
Finalizando, Felizardo Félix da Silva manteve os depoimentos já prestados, e esclareceu que naquele encontro havia perguntado ao Alencar, "se no dia 11 de novembro de 1970, Nilton Paulo havia trabalhado", tendo como resposta que sim, até às 17,30 horas. 
Alencar, ao encerramento, esclareceu que trabalha com o filho do patrão, até as 17,30 horas, mas não que naquele 11 de novembro de 1970 Nilton Paulo trabalhara até o referido horário, lembrando-se de ter dito ao policial militar que naquela data Nilton não comparecera ao trabalho, e perguntara ao dono da firma por que o rapaz não comparecera ao serviço, com a resposta dada que acompanhara a mãe a Botucatu. 
O empregado de Paulo Marques estava orientado a não dizer a verdade, daí sua insegurança e contradições.

2.4. Laudze Garcia Menezes – testemunha do Felizardo
Laudze Garcia Meneses, trabalhador no Setor de Segurança da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em Bauru, domiciliado e residente à Rua Gerson França, 7-55, nascido na mesma cidade, aos 12 de fevereiro de 1936, filho de Eldiberto Menezes e Olívia Garcia Menezes, intimado, compareceu à Delegacia de Polícia do Município, em 05 de fevereiro de 1971, onde presente a autoridade policial, dr. José Francisco Bastos Silva, para depoimento.
Sem precisar data, Laudze informou que após 15 de novembro de 1970, por volta das 10,30 horas encontrara-se com o policial militar Felizardo Félix da Silva, defronte ao Banco Bradesco S/A, conversando assuntos diversos e, daí, à tona o 'Caso Mara Lucia', que já tinha como suspeito Nilton Paulo Vilela de Castro, quando próximo estava o Alencar Gandara, empregado da tipografia do pai do suspeito, e a ele Felizardo se dirigiu: "estão falando que o filho do seu patrão, Nilton Paulo, é o assassino de Mara Lucia, como é isso?". 
Alencar, segundo Laudze, teria respondido: "não é possível, porque o dia em que ela morreu, ele, Nilton Paulo trabalhou lá conosco até às 17,30 horas"; e o próprio Laudze interveio: "se ele trabalhou até essa hora, não pode ter sido ele", e então se separaram, apenas Felizardo permanecendo no local onde prestava serviço de policiamento. 
Laudze informou, ainda, que dias depois, na parte da manhã, logo após publicação em jornal local que senhoras rotarianas haviam estado com Nilton Paulo e sua mãe, numa exposição em Botucatu, e outra vez encontrou Felizardo, de folga e não fardado, que cismado tocou no assunto da publicação da matéria jornalística: "você vê que coisa, o menino lá da tipografia disse que Nilton Paulo estava trabalhando até as 17,30 horas no dia do crime, e as senhoras da sociedade disseram que estiveram com ele lá em Botucatu, essa história está enrolada". 
Coincidentemente viram Alencar saindo do serviço e Felizardo se dirigiu até o empregado da gráfica e conversaram por algum tempo, mas ele, Laudze, permaneceu onde estava e nada ouviu, mas viu Alencar sair e o militar seguir outro caminho . 

3. O depoimento de Nilton Paulo
Suspeito no assassinato de Mara Lucia, Nilton Paulo prestou declarações na Delegacia de Polícia do Município de Bauru, em 18 de dezembro de 1970, onde presente a autoridade policial o delegado Bastos Silva.
Detalhadamente o depoente explicou que no dia 11 de novembro de 1970, após pegar dinheiro na tipografia do pai, levou a mãe até Botucatu, no veículo de sua propriedade, um automóvel Volkswagen ano 1968, cor verde caribe. 
Embora rotariana em Bauru, dona Pautila, não viajou de ônibus com suas amigas para Botucatu, onde a realização de feira artesanal – exposição de tapetes no Instituto Santa Marcelina, por não comparecer à reunião de senhoras quando se decidiu a tal viagem, e seu marido Paulo esqueceu de avisá-la, e resolveu que o filho a levasse.
Na oportunidade, Nilton descreveu o trajeto desde a tipografia do pai, até a via Marechal Rondon e daí a Botucatu, chegando em torno das 15,00 horas. Não viajou com o veículo Chevrolet – C-14, cor azul, placas 3167, de seu pai, e não foi abordado por nenhum policial de trânsito, no dia 11 de novembro de 1970, e nem conhecia o militar Felizardo Felix da Silva.
Nilton informou quanto a sua permanência em Botucatu até por volta das 17,20 horas, e neste período, em companhia da mãe, encontrou-se com senhoras rotarianas de Bauru, conversou com a esposa do Coronel João Castein Castilho e esteve a maior parte do tempo com a jovem Eloísa Zulian, presente na feira.
Ainda em Botucatu, por volta das 16,00 e 16,30 horas, conduziu em seu automóvel três amigas de sua mãe até uma loja de vendas de linhas para trabalhos manuais, citando as senhoras Alyria Abreu Almeida, Marina Junqueira e Ana Accioly, além da jovem Neide Urso, do Instituto Santa Marcelina (Botucatu), que lhes indicou o comércio. 
Enquanto as senhoras faziam compras, retornara com a moça até o local da exposição, onde a deixou. 
Na exposição o Nilton outra vez esteve com Eloísa, que o acompanhou para buscar as senhoras e, de volta, deixou-as na feira para, em seguida, dirigir-se com a mãe até um mercado e outro local para compras, antes do regresso para Bauru, onde chegaram em torno das 18,20 horas, após parada para abastecimento do veículo no 'Posto Chapadão' Km 303/570, Rodovia Marechal Rondon, já próximo a Bauru, e para comprovar o feito, apresentou à autoridade policial a Nota Fiscal de nº 30.885, valor de Cr$. 10,00 [dez cruzeiros] . 
Ainda mais, Nilton Paulo, na noite de 11 de novembro, se dirigiu à casa de sua noiva, Marilda Leite, indo com ela ao cinema, e regressou ao lar após as 23,00 horas.  
Nos dias 12 e 15 de novembro de 1970 Nilton Paulo confirmou sua presença em Bauru, onde votou nas eleições de 15 e novembro de 1970, cuja certidão anexada ao processo .
A 18 de novembro de 1970, o Nilton teria viajado a São Paulo e Mogi das Cruzes para cuidar de transporte de pessoa enferma, parente de sua noiva, para retornar na data de 19 e viajar novamente para São Paulo, no dia 20, com a mãe.
Aos 24 de novembro de 1970, o menor Décio Luiz não reconheceu Nilton Paulo como aquele visto ao lado de Mara Lucia, sendo o ato de reconhecimento testemunhado por um dos juízes da comarca, um dos promotores de justiça, o comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, e alguns advogados e outras pessoas.
O depoimento de Nilton Paulo aconteceu em 18 de dezembro de 1970: 
"(...), no dia 11-11-1970, por volta das 13,50 [horas] o depoente após pegar dinheiro na tipografia de seu pai, num automóvel Volkswagen, ano de fabricação 1968, com placas QA 1416, cor verde caribe, em companhia de sua mãe o declarante se dirigiu, pela Rua Batista de Carvalho, onde se localiza a tipografia de seu pai, o declarante subiu a Rua Agenor Meira, alcançou a Av. Rodrigues Alves, e se dirigiu até a Rua Aureliano Cardia (à direita) e seguiu para a Rua, digo, para a Rodovia Marechal Rondon até a cidade de Botucatu, a fim de verem uma exposição de Tapetes no Instituto Sta. Marcelina, onde o declarante permaneceu até por volta das 17,20 horas, hora em que saiu de lá chegando aqui em Bauru, por volta das 18,20 horas; que o declarante esclarece, que naquele dia, 11-11-1970, de volta para esta cidade, entre 18,00 [horas] mais ou menos, parou no Posto 'Chapadão' sito na Rod. Marechal Rondon, Km 303/570 onde reabasteceu seu veículo Volkswagen com gasolina, Cr$. 10,00, conforme exibe à autoridade policial a nota nº 30.885, data de 11-11-1970; que o depoente, digo, o declarante esclarece, que realmente seu pai possui uma perua Chevrolet ‘C-14’, azul, com placa 3167, mas naquele dia 11-11-1970 o declarante não a utilizou; que, ainda, o declarante não foi abordado por nenhum policial para fiscalizar a documentação de seu automóvel Volkswagen; que, o declarante desconhece o PM. Felizardo Felix da Silva; que, ainda, o declarante diz que nunca foi fiscalizado por ninguém quando conduzia a perua Chevrolet de seu pai; que, esclarece mais, que no dia 11-11-1970, o declarante chegou em Botucatu, por volta das 15,00 horas, que, na exposição, o declarante, em companhia de sua mãe, encontrou-se com várias senhoras Rotarianas de Bauru, todas amigas da mãe do declarante, onde ficaram conversando; que o declarante encontrou-se com Eloísa Zulian, com a qual ficou conversando muito tempo; que, ainda, lá, o declarante levou em seu automóvel três senhoras amigas de sua mãe, e uma mocinha de Botucatu, esta foi mostrar uma loja que vende materiais para fazer trabalhos manuais, isto por volta das 16,00 e 16,30 horas; que, como a mocinha que havia ido mostrar o local, precisava voltar para a exposição, o declarante deixou as duas, digo as três senhoras amigas de sua mãe, e desta vez o declarante foi acompanhado por Eloísa; que, de volta da loja o declarante deixou as três senhoras na exposição, e em companhia de sua mãe foram ao Mercado para fazer compras, e posteriormente foram à outro local para comprar pêssegos, e depois vieram para Bauru, onde chegaram depois de 18,00 horas, isto é, entre 18,00 e 18,20 horas; que, o declarante esclarece, que as três senhoras [que] o declarante as levou para fazer compra em Botucatu foram: a esposa do Dr. Célio de Almeida, a viúva [de] Mário Junqueira e dona Ana Accioly; que lá na exposição o declarante conversou com a esposa do Coronel [João] Castein Castilho" . 
3.1. Auto de acareação entre Felizardo Félix e Nilton Paulo 
Aos 18 de dezembro de 1970, na Delegacia de Polícia do Município de Bauru o titular, dr. José Francisco Bastos Silva, à vista das divergências entre as declarações de Nilton Paulo e Felizardo Felix, fez realizar a acareação entre ambos para os esclarecimentos e explicações necessárias.
Os discordos eram notórios. Felizardo Felix, no serviço policial de trânsito na confluência entre a Avenida Duque de Caxias com a Rua Xingu, entre as 15,20 e 15,30 horas do dia 11 de novembro de 1970, determinara parada do veículo perua Chevrolet – C-14, cor azul, placas 3167, por excesso de velocidade rumo à Rodovia Marechal Rondon, conferindo os documentos do veículo e os do condutor, Nilton Paulo, estando tudo em ordem, porém advertindo-o por excesso de velocidade, sem aplicação de multa ante reconhecimento do erro e pedido de desculpas do motorista. 
Nilton Paulo em suas declarações afirmava que no dia 11 de novembro de 1970, por volta das 13,50 horas, levara sua mãe a uma feira de artesanato em Botucatu, no seu veículo Volkswagen, placas QA 1416, onde permanecera até por volta das 17,20 horas, quando o retorno para Bauru, chegada em torno das 18,20 horas.
Ambos sustentavam suas versões. Felizardo lembrava-se da data e horário, em razão de sua entrada em serviço, e que em 16 ou 17 de novembro já era voz corrente na cidade que Nilton Paulo era o principal suspeito no 'Caso Mara Lucia', e se recordava da placa do veículo por ser de fácil memorização, porém não se recordava em qual nome registrado o veículo, se de Nilton Paulo, do pai, Paulo de Castro Marques, ou da empresa.  
Aparentemente o Nilton Paulo apresentava argumentos mais sólidos para o seu álibi, pois não fora autuado por Felizardo – não houve registro da infração e nem viria ser a palavra de um contra o outro, afinal podia comprovar, por testemunhos diversos que, na tarde de 11 de novembro de 1970, estivera em Botucatu, com a mãe. As senhoras rotarianas que o teriam visto em Botucatu comprovariam a verdade, tanto por depoimentos ou declarações, quanto por publicações em jornais da cidade.
Ainda, o Nilton Paulo reafirmou que nunca ter sido fiscalizado pelo policial militar Felizardo, em nenhum veículo, embora costumeiro levar sua noiva à Faculdade de Direito, pela manhã, por volta das 7,00 horas, às vezes com o seu Volkswagen, outras na perua Chevrolet, de propriedade de seu pai.
Neste aspecto restou ao policial Felizardo reafirmar seu depoimento que fiscalizara sim o Nilton, entre as 15,20 e 15,40 horas do dia 11 de novembro de 1970, na Avenida Duque de Caxias, por excesso de velocidade na direção do citado veículo Chevrolet, mas não fizera o registro de multa; ainda, que examinou a carta de habilitação do condutor onde constava o nome Nilton Paulo Vilela Marques – corrigiria, errado, Nilton Paulo Marques –, contudo não examinara com atenção a fotografia na carteira e motorista, com referência se ele estava barbeado ou não na foto, ou se de cabelos longos ou não.
Forte apoio para o Felizardo a testemunha Laudze Menezes, que ouvira seu questionamento ao Alencar Gandara, empregado na tipografia de Paulo de Castro Marques, cujo filho alvo da boataria como principal suspeito nos crimes contra a menina Mara Lucia, e a resposta do indagado que isto não era possível, pois Nilton trabalhara na tipografia até às 17,30 horas naquele dia . 

4. Os testemunhos a favor de Nilton Paulo
Nilton Paulo convencera a polícia civil, que no dia 11 de novembro de 1970 levara sua mãe a Botucatu, a uma feira de artesanatos, no seu Volkswagen Fusca, lá chegando por volta das 15 horas, retornando próximo às 18,30.
A favor dele as empregadas domésticas Lazara de Souza e Fátima Aparecida Prado, além da lavadeira semanal Maria Barbosa Azevedo, que não sentiram cheiro de roupas queimadas e na residência não se queimou, e a Lazara precisou o traje usado pelo jovem naquele dia 11 de novembro de 1970, camisa azul xadrez e calça escura. 
A Polícia Civil ouviu, por telefone, as senhoras rotarianas Ary Nunes Garcia e Eunice Zulian, que confirmaram a presença de Nilton Paulo em Botucatu, na mencionada feira ou exposição, entre 15 e 15,30 às 18 ou 18,30 horas, dispondo-se disto testemunharem, com as amigas que viajaram até aquela cidade, num ônibus, e cuja relação nominal repassada à autoridade policial e anexada aos autos, além de declaração conjunta assinada por todas. 
João Vieira, pai da vítima, perguntado quando do seu depoimento, alegou não ter qualquer suspeita que Nilton Paulo pudesse ser o assassino.

4.1. Declaração conjunta das senhoras rotarianas
Juntado aos autos uma declaração das senhoras rotarianas bauruenses, confirmando a presença de Nilton Paulo Vilela Marques em Botucatu, a 11 de novembro de 1970, por ocasião da 'exposição de tapetes' naquela cidade:
"DECLARAÇÃO - Nós, abaixo-assinadas todas residentes e domiciliadas nesta cidade de Bauru, declaramos, sob as penas da lei, a bem da verdade e a quem interessa possa, o seguinte:1. No dia 11 do corrente mês, quarta-feira, estivemos na cidade de Botucatu, afim de visitar uma exposição de tapetes, onde, além de assinar nosso nome em um livro de presença, permanecemos das 15,00 até 17,30 horas. Depois desse lapso de tempo, dirigimo-nos de volta para Bauru, no mesmo ônibus que nos trouxe, cedido pelo Snr. Gino Paulucci, aqui também residente.2. Logo, em seguida, à nossa chegada a Botucatu, lá, também, compareceu Dª. Pautila Vilela Marques, acompanhada de seu filho Nilton Paulo Vilela Marques, que permaneceu na referida exposição até às 17,30 horas, quando retornamos a esta cidade. 3. Dª. Marina Junqueira (viúva do Mário Junqueira) e Dª. Alyria de Almeida (esposa do Dr. Célio de Almeida), foram, também, na mesma condução coletiva. Em Botucatu, aproveitaram o carro dirigido pelo Nilton Paulo para fazer compras.4. Declaramos, ainda, por oportuno, que a referida exposição, também, abrangia apresentação de bordados, tricôs e artesanato de um modo geral, no Instituto Santa Marcelina, situado à Rua Dr. Costa Leite nº 548, já na referida cidade de Botucatu.Por ser a expressão da verdade, firmamos a presente declaração para os devidos e legais fins de direito.Bauru, 23 de Novembro de 1970.[Assinaram]: -Ilegível - Santinho-Therezinha Odette de Souza Paulucci;-Eulália – ilegível – Russell;-Eunice Souza Zulian;-Denize G. Machado;-Narciza Mantovani Lopes;-Zilah Lopes;-Carmen Guimarães Garcia;-Celina França Ferraz;-Alyria Abreu de Almeida;-Marina Rinaldi Junqueira;-Zaíra Rabello de Andrade;-Natalina Barberi Roberto;-Anna Lins Accioly;-Ilegível - S. Beojoni.Declaro que neste dia, em Botucatu, vi o rapaz Nilton Paulo, por volta das 16,30 horas. Léia Graphia Castilho.(...)" .
4.2. Depoimentos individuais das senhoras rotarianas
Algumas senhoras, dentre assinantes da declaração conjunta, prestaram depoimentos, na Delegacia de Polícia do Município de Bauru, como testemunhas de Nilton Paulo Vilela Marques, quanto a sua estadia em Botucatu, no dia 11 de novembro de 1970. 

4.2.1. Alyria Abreu de Almeida 
Natural de Juiz de Fora – MG, idade de 56 anos, residente em Bauru desde 1937, em depoimento prestado aos 15 de dezembro de 1970, perante delegado Bastos Silva, afirma conhecer Nilton Paulo por volta de 1955, e no dia 15 de novembro de 1970 encontrava-se em Botucatu com outras senhoras do Rotary Club de Bauru, para onde viajaram num ônibus fretado, para participarem de uma feira artesanal naquela cidade, chegando por volta das 15,00 horas. 
Teria visto Nilton Paulo e sua mãe na mesma feira uns trinta minutos após a vinda. 
Num dado momento, ela, Alyria, dona Marina Junqueira e dona Ana Acciole, resolveram fazer compras na cidade sendo conduzidas 'de carro' pelo Nilton Paulo, e, com elas uma jovem residente no Colégio de Botucatu, que conhecia o endereço da loja pretendida. Enquanto ela e as amigas faziam compras, Nilton voltou ao local da exposição com a moça, para retornar depois, acompanhado de Eloísa Zulian, e leva-las de volta.  
Segundo Alyria, por volta das 16,40 horas o ônibus já estava pronto para o regresso a Bauru, e não viu mais Nilton Paulo; e se lembra que o ônibus permaneceu cerca de meia hora, defronte um bar, próximo do colégio realizador da feira artesanal .  

4.2.2. Marina Rinaldi Junqueira
Nascida em Bauru, no ano de 1920, conhece Nilton Paulo desde quando ele criança, e declara que no dia 11 de novembro de 1970, ela e amigas vinculadas ao Rotary Club de Bauru viajaram de ônibus fretado até a cidade Botucatu, para participarem de feira artesanal – exposições de trabalhos manuais, chegando lá por volta das 15,00 horas.
Dona Marina viu Nilton Paulo em companhia da mãe, e usou os préstimos do jovem que a levou de carro, com as amigas dona Alyria e dona Ana Accioli, até uma loja para compras de lãs. Uma jovem, interna do colégio promotor do evento, autorizada pela diretora, acompanhou-as até o local onde a venda dos produtos desejados.
Enquanto aquelas senhoras faziam suas compras, Nilton retornou com a jovem à exposição e, ao voltar para busca-las, fazia-se acompanhar de Eloísa Zulian. 
Segundo dona Marina, por volta das 16,45 horas tomou assento no ônibus com as demais amigas, para regresso a Bauru, sendo que o tal veículo permaneceu defronte um bar próximo ao colégio por cerca de meia hora. 
Acrescentou que após a entrada no ônibus, não viu mais dona Pautila e o filho, que deviam já retornado para Bauru, sem parada naquele bar onde ela e as amigas aguardavam partida do ônibus  .

4.2.3. Anna Lins Accioly 
Anna, 63 anos, professora de trabalhos [artes] manuais, moradora em Bauru desde 1968, disse que aos 11 de novembro de 1970, ela e as amigas se dirigiram, de ônibus, para a cidade de Botucatu onde se realizava uma exposição de trabalhos artesanais. 
Após ver a exposição recebeu convite das aprendizes, dona Marina e dona Alyria, para compras de lãs no centro da cidade, acompanhadas de uma jovem, interna do colégio realizador da feira, que lhes mostraria a loja de venda de lãs, e, assim, entraram no veículo de Nilton Paulo que as conduziu ao local. Não conhecia o rapaz.
Enquanto ela e as amigas viam os produtos pretendidos, Nilton Paulo levou a moça de volta à exposição, e ao regressar para buscar a depoente e suas colegas, o rapaz se fazia acompanhar pela jovem Eloísa Zulian.
Que, retornando à feira, ela e as amigas tomaram o ônibus com destino a Bauru, porém permaneceram, por algum tempo, em Botucatu, num bar próximo ao colégio para lancharem; e não viu mais Nilton Paulo e nem sua mãe que, por certo, permaneceram na feira por mais algum tempo . 

4.2.4. Natalina Barberio Roberto 
Nascida em Elisiário (SP), no ano de 1922, residente em Bauru a dezenove anos, afirmou conhecer Nilton Paulo e família Vilela Marques desde 1955.
Declarou que a 11 de novembro de 1970 viajara com outras senhoras rotarianas para Botucatu, a fim de participarem de exposição de trabalhos manuais, saindo de Bauru por volta das 13,00 e chegando ao destino em torno de 14,30 horas. 
Quando olhava a exposição viu Nilton Paulo e a mãe e foi cumprimenta-la. Por volta das 17,00 horas, ao entrar no ônibus para retorno a Bauru, viu que o jovem, em seu carro, trazia algumas colegas que haviam ido comprar lãs, e uma delas, ao entrar no coletivo, disse que brincara com Nilton Paulo, que o escapamento do carro dele estava barulhento. 
A viagem de volta para Bauru, por volta das 17,00 horas, teve interrupção de meia hora, defronte a um bar para tomarem lanche; não mais viu Nilton Paulo e sua mãe que, por certo, ainda permaneceram algum tempo na feira .  

4.2.5. Eloísa Souza Zulian 
Jovem, dezoito anos de idade, nascida em Bauru aos 20 de março de 1952, filha de Mario Zulian e Eunice de Souza Zulian, reconhecidamente amiga de Nilton Paulo desde aproximadamente quinze anos antes, confirma que no dia 11 de novembro de 1970 acompanhou as senhoras rotarianas numa viagem a Botucatu onde realizada exposição de trabalhos manuais, e lá encontrou-se com Nilton Paulo acompanhado da mãe, e a partir do encontro ela e o amigo ficaram conversando e vendo a exposição.
Confirma que Nilton Paulo levou algumas senhoras para comprar lã numa loja em Botucatu, e que ela ficou com a mãe do rapaz por uns dez minutos quando este regressou, e outra vez puseram-se a conversar e até foram à capela ali no local, antes de se dirigirem aonde as senhoras compravam lãs, para busca-las, e, juntos, voltaram à exposição. 
Afirma que, antes de entrar no ônibus para retorno a Bauru, despediu-se de Nilton Paulo juntamente com sua mãe. 
O coletivo em que estava, com as senhoras rotarianas, parou em um bar, por aproximadamente trinta minutos, para um lanche   .

4.2.6. Neide Urso – confirma Nilton Paulo em Botucatu 
A polícia de Bauru, através do investigador de polícia Manoel Antonio Rodrigues, acompanhado de Nilton Paulo, localizou Neide Urso em Botucatu.
A jovem reconheceu Nilton Paulo e afirmou tê-lo acompanhado e a uma senhora, no carro dele, aos 11 de novembro de 1970, até uma loja de artigos para artesanatos, em Botucatu, entre as 16 e 16,30 horas, contrapondo-se às declarações das três senhoras que teriam ido ao estabelecimento, mas a jovem não permaneceu por lá, retornando antes ao colégio.
O documento comprobatório da averiguação investigativa, anexado aos autos em 22 de dezembro de 1970 .

4.3. Documentos juntados para o álibi de Nilton Paulo
4.3.1. Nota fiscal de abastecimento do veículo
O primeiro documento apresentado por Nilton Paulo, suspeito no 'Caso Mara Lucia', foi a Nota Fiscal nº 30885 – série B-7, referente abastecimento de seu veículo, datada de 11 de novembro de 1970, emitida pelo Auto Posto Chapadão – Lençóis Paulista, Rodovia Marechal Rondon Km 303/570 ; documento oferecido quando das suas declarações nos autos, em data de 18 de dezembro de 1970.
Para alguns tratou-se de nota fiscal forjada, no sistema denominado 'nota espelho', onde apenas a primeira via datada conforme interesse do cliente, ou, que um novo talão confeccionado. Até se pensou desconsiderar o documento, sob argumento que dificilmente pessoa física solicitaria nota de abastecimento de um veículo e a guardaria. 
Talvez, mas não esclarecido nos autos, tal documento fiscal exigido para a prestação de contas quanto a retirada de numerário na gráfica de Paulo de Castro Marques, onde Nilton Paulo requereu dinheiro para despesas de viagem. 

4.3.2. Comprovante de votação
Aparentemente sem qualquer significado prático, também se fez juntada de declaração de voto do Nilton Paulo, nas eleições ocorridas aos 15 de novembro de 1970.
A Certidão, a pedido, traz data expedição aos 14 de dezembro de 1970.

5. Crime por vingança familiar – se dizia na época
Crime de grande repercussão, o 'Caso Mara Lucia' provocou o comportamento histérico de cooperadores policialescos, travestidos de detetives, com apontamentos absurdos e alguns até indicativos, dos quais pelo menos um seria acertado e predominou que o crime teria sido por vingança de família.
Na Bauru de 1970 corriam boatos que o empresário Paulo de Castro Marques tinha, por amante, uma mulher casada e mãe de filhos. Se verdade ou mentiras, difícil separá-las . Do relacionamento teria nascido a menina Mara Lucia.
Isto aborrecia sobremaneira a esposa Pautila Vilela Marques, os filhos e demais parentes, inclusos os vinculados pelo cunhadio, dona Lila e o sr. Edgard. 
A família magoada estaria disposta, de certa forma, findar o ignominioso romance, e a solução primeiro se buscou na fé, através de pedidos e promessas, também nas 'sessões espíritas' na casa de Edgard, o que, espiritualmente não acontecido no imediato requerido, ensejou intervenção humana indevida.
A morte de Edgard, que a polícia ignorava, fizera cessar a esperança da família numa intervenção do além, e o jovem Nilton Paulo teria resolvido, num momento insano pelas drogas, sequestrar e assassinar a filha da amante do pai, sendo o estupro acontecido por extravasamento emocional.
Assim, quando localizado o corpo de Mara Lucia naquela casa desocupada, impossível não arrazoar na coincidência que o tal imóvel pertencesse ao Paulo de Castro Marques, onde morava e fazia trabalhos espirituais o seu irmão Edgard de Castro Marques, até que este sobreveio o óbito, e, desde que desocupado o lugar, lá Nilton Paulo drogava-se e promovia encontros sexuais. 
A polícia trabalhou com a possibilidade de crime por vingança familiar, mesmo não admitindo publicamente, porém sugestiva nas palavras do delegado José Geraldo Cremonesi:
"A primeira notícia surgida envolvia o irmão de Paulo Marques, proprietário da casa onde foi encontrado o corpo da vítima. Averiguando, apuramos que o citado irmão de Paulo Marques, que sofreria das faculdades mentais, falecera quase um ano antes (...).Da acusação do irmão, passou-se à acusação do epigrafado [Nilton Paulo], filho de Paulo Marques, fato comentado inclusive, por policiais da P.M., principalmente, o soldado Avelino, que investigava o caso. Telefonemas anônimos passaram a acusar o epigrafado [Nilton Paulo], sendo de se ressaltar que o mesmo embora sem antecedentes policiais formalizados, pois registra apenas um caso de acidente de veículo quando menor (17 anos), tinha fama de ser viciado em entorpecentes, 'conquistador' etc., daí, provavelmente, a suspeita, e a 'eleição gratuita' do povo."
Não foi eleição gratuita popular. As duas polícias trabalharam com suspeições sobre Nilton Paulo, a civil por atribuição legal, e a militar através de força-tarefa paralela, ambas sem jamais esclarecer por que motivos as investigações sobre os Marques, contudo outra razão não haveria exceto vingança familiar.
Morto o Edgard, quase um ano antes dos acontecimentos, Nilton Paulo tornou-se o principal suspeito do crime, pelas duas polícias. 
Mas, o Nilton Paulo não conhecia Mara Lucia o suficiente para que ela o acompanhasse, sem resistências, por algumas ruas de Bauru até o local do crime. Para isto teria ele que valer-se de um terceiro elemento, conhecido da vítima, para conduzi-la sem alardes até o imóvel, à Rua Professor José Ranieri, 8-61, e lá a entregasse para a consumação do ato, e esse alguém, seria Elivaldo Torres de Vasconcelos, o Francês.
As polícias bauruenses não atinaram para esta possibilidade, que seja do conhecimento público, e nenhum vínculo estabelecido entre Nilton Paulo e o Francês, o único reconhecido pela testemunha Décio Luiz Venturini e conhecido da vítima.
Sem dúvidas falharam os policiais e autoridades, pois não se desprezam detalhes numa investigação policial, de possível cooperação entre suspeitos, exceto quando não há o menor propósito em alcançar resultado.

6. Pedido de arquivamento do Inquérito Policial 10/71
O Inquérito Policial de nº 10/71 teve sua inaugural a partir do sumiço de Mara Lucia, em 12 de novembro de 1970, referência ao dia anterior, e o primeiro arquivamento, dos dois folhosos, ocorrido aos 14 de agosto de 1974, a pedido do Dr. Irahy Baptista de Abreu, 1º Promotor de Justiça da Comarca de Bauru. 
Para o Ministério Público o citado inquérito avolumara-se, sobremaneira, e a nada mais conduzia, senão às constantes idas e vindas ao Fórum e Delegacia de Polícia, tão somente para satisfazer prazos legais de adiamentos. 
A justificativa centrava-se que as investigações policiais, extra-autos, em sua maioria, já não apresentavam legitimidade na produção das provas, na fase inquisitória, apenas ações repetidoras de antigas avaliações, de tal maneira que o prosseguimento de novos resultados ou diligências não dependiam da presença do Inquérito na Polícia.  
"(...). MM Juiz (10/71)Este inquérito, instaurado para apurar-se a autoria da morte de Mara Lucia Vieira, estupidamente violentada por bestial e até agora desconhecido autor, vem se avolumando com as constantes idas e vindas ao Fórum e Delegacia de Polícia locais, apenas para satisfazer a legalidade dos prazos determinados pelo art. 10, § 3º, do C.P. Penal, sem qualquer novo elemento a ele tenha sido juntado desde e de dezembro de 1972 (fls. 247). É inegável que as investigações seguem e prosseguirão indefinidamente até que se possa identificar o criminoso, mas essas diligências independem da presença do inquérito na Polícia, fazendo com que este se avolume e desgaste desnecessariamente, pois inúmeras investigações foram feitas extra-autos para a apuração de eventuais pistas que a nada conduziram e que trazidos aos autos apenas serviram para tumultuar a colheita de provas válidas.Assim, requeiro o arquivamento deste, sem qualquer prejuízo para o prosseguimento das investigações, como de resto autoriza o art. 18 do C.P. Penal, devendo ser oficiado ao digno delegado que preside a este para conhecimento da cota (remetida em xerox), e solicitando que essa autoridade, diante de qualquer prova válida futuramente obtida, imediatamente entre em contato com esta 1ª Vara para o reenvio do inquérito àquela autoridade policial.Bauru, 14 de agosto de 1974.[a] [Dr] Irahy Baptista de Abreu – 1º Promotor Público O pedido foi aceito pelo juiz de direito – 1ª vara, dr. Reynaldo Galli, sendo oficiado o delegado Cremonesi da decisão aos 20 de agosto de 1974.  De interesse atinente, o dr. Cremonesi, pela Delegacia de Polícia do Município, aos 27 de agosto de 1974 respondeu ao juízo oficiante:"(...).Realmente, os autos já há algum tempo simplesmente tramitavam com reiterados pedidos de prazo entre o Fórum e a Delegacia.As investigações prosseguem os casos semelhantes e que nos chegam ao conhecimento nesta ou em outras Comarcas, investigações essas porém, que podem perfeitamente ser feitas com os dados já coligidos e pelo que da cópia dos autos consta.Ainda, recentemente, procedemos investigações no caso em tela, por intermédio de policial de uma das equipes de crimes contra a pessoa na Capital do Estado, resultando negativas.As diligências continuarão e em caso positivo da determinação da autoria, procedemos, nos termos do Art. 18 do C.P.P., para conclusão do Inquérito.Sendo dispensável, também, por ora, a permanência nesta Delegacia dos objetos apreendidos no curso do inquérito, e referidos no final deste, pelo presente fazemos remessa dos mesmos a esse digno Juízo, onde se acham os autos arquivados.Aproveitamos o ensejo para renovar a Vossa Excelência, protestos de elevada estima e distinta consideração.Atenciosamente,O Delegado de Polícia,[Assinatura] Dr. José Geraldo Cremonesi EM ANEXO:Objetos apreendidos:a) - Um pequeno cordel de fibra trançado, que se encontrava envolvido na garganta da vítima (...)b) - Um rôlo de fita magnética própria para gravação e que exibido por Saulo Gomes, refere-se a uma entrevista dada àquele repórter na cidade de Bauru. (Apreendido pelo DOPS-SP, em 27-12-1971 ...)."