O advogado Luiz Fernando Comegno, conhecido Dedé, foi antes investigador de polícia, exercício em Piratininga, município vizinho a Bauru, no tempo dos acontecimentos com Mara Lucia Vieira.
Dedé já não era policial civil e se encontrava preso, por circunstâncias e situações alheias à sua antiga atividade funcional, quando comentou à imprensa, por seu advogado, que tinha declarações bombásticas sobre o 'Caso Mara Lucia', pois em seus tempos de policial conseguira "levantar o nome do assassino de Mara Lucia Vieira e o denunciou ao então delegado regional de Polícia, Francisco de Assis Moura, que não tomou as providências cabíveis. "
Dedé, apontava certo João Ugeda Medina como o assassino de Mara Lucia.
1.1. O depoimento do Dedé
Nascido em Bauru aos 10 de novembro de 1954, filho de Nelson Comegno e Dinorah de Araujo, advogado, casado, residente à Rua Horton Hoower, 5-62, Jardim Europa – Bauru.
Luiz Fernando Comegno, em data de 08 de março de 1985, compareceu à Delegacia Regional de Polícia, em Bauru, acompanhado do advogado, Luiz Celso de Barros, para depoimento nas presenças do delegado, dr. Walter Mendes, e do promotor Otacílio Garms.
Uma longa e confusa história, então melhor a transcrição do depoimento:
"(...), quando Investigador Polícia, com sede de exercício na cidade de Piratininga, e como tinha pouco serviço naquela localidade, e como recebera uma 'caguetagem' como se diz na gíria policial que consistia na informação de que um parente da vítima seria o assassino; que, soubera também que esse parente da vítima ajudara a polícia nas investigações, conforme toda a população de Bauru ajudou; que, esse parente da vítima vinha a ser seu tio porque era casado com uma irmã da mãe de Mara Lucia Vieira; que, este casal de tios de Mara Lucia viera de Cubatão e passou a se hospedar na casa de Mara Lucia, enquanto procurava casa para alugar aqui em Bauru; que o depoente procurou o Dr. Francisco de Assis Moura, e lhe relatou esse fato; que, naquela oportunidade se fazia acompanhar do investigador Manoel Bento Ferreira; que, o Dr. Francisco após ouvir o relato do depoente entregara o inquérito referente ao caso Mara Lucia, ao depoente e a Bento; que, juntamente com Bento iniciou as investigações e após várias tentativas conseguiu conversar com a mulher desse tio de Mara Lucia; que, ela lhe dissera que havia brigado com o marido e se encontrava separada do mesmo, pois naquela altura ele já havia deixado a mulher e os filhos; que, isto já havia decorrido mais de dez anos; que, esse casal era constituído por Clara e Medina Ugeda, não sabendo o depoente se ele tem mais um nome, ou melhor dizendo, seu nome todo; que, tem uma ligeira recordação que o nome todo era Roberto Medina Ugeda; que, Medina Ugeda, segundo sua mulher, havia saído para procurar casa, a fim de alugá-la; que, no dia do fato, Clara vira Mara Lucia brincando na rua na frente da casa e seu marido saíra logo depois para procurar casa conforme vinha fazendo; que, nesse dia foi constatado o desparecimento de Mara Lucia até que fora encontrada o seu cadáver numa casa vazia que estava para alugar, uma três quadras da casa onde Medina estava hospedado; que, após o dia em que a menina sumira, o comportamento de Medina mudou, segundo sua mulher, estava nervoso; que, Medina passou a ajudar a procurar a menina, juntamente com a Polícia; que, Medina ficou morando aqui em Bauru, exercendo a atividade de motorista de táxi, com ponto inicialmente na Praça Rui Barbosa e posteriormente com ponto na zona do meretrício; que, posteriormente o depoente soube que Medina comprara ou arrendara a casa 'Primavera' na zona do meretrício e passou a explorar essa casa; que esclarece que as características de Medina eram bastante parecidas com as do filho de Paulo Marques, que era suspeito na época, por ter sido a casa em que Mara Lúcia fora encontrada, propriedade de Paulo Marques; que, as características físicas de Medina também se assemelham com as características do 'Francês' que também fora suspeito na época; que, o depoente tem até hoje, guardadas em sua casa a fotografia de Medina, na época dos fatos e que apresentará oportunamente; que, relatou as investigações acima mencionadas, verbalmente, ao Dr. Francisco de Assis Moura, Delegado Regional na época; que, ao vir aqui na Delegacia para fazer esse relato ao Dr. Francisco, quando trouxera o inquérito e naquela oportunidade encontrou-se com o Dr. Athaíde e o Dr. Reinaldo, ambos Delegados de Polícia; que, como o depoente não havia encontrado nenhum elemento material de prova que pudesse incriminar ou excluir Medina Ugeda, dessa suspeita, chegou à conclusão de somente se ele confessasse a autoria; que, no ver do depoente o próximo passo seria a prisão de Medina para ver se conseguiria sua confissão; que, achava também que, embora estando convicto que era ele Medina, porém a sua prisão sem uma prova robusta que pudesse incriminá-lo poderia 'estragar o serviço'; que, o depoente se recorda que houve um homicídio no mato aqui próximo de Bauru e que o Medina era o motorista do táxi que levava a vítima, 'SAIOTE' e Cavalcante; que, esclarece também que conversara com um irmão de Clara, digo, com um irmão de Mara Lucia, que na época do fato era criança e que na época em que o depoente falou com o mesmo já estava com uns dezessete anos mais ou menos e trabalhava no Frigorífico Prenda, aqui em Bauru, onde ele confirmou que Medina estava hospedado em sua casa quando sua irmã desapareceu e posteriormente fora encontrada morta; que, esclarece também que o investigador Bento foi sozinho à Assis e possivelmente a Ourinhos para conversar com a família de Mara Lucia que havia se mudado para Assis ou Ourinhos; que, Bento obteve confirmação de que Medina estivera hospedado na casa de Mara Lucia na época do fato; que, o depoente tem conhecimento que Clara morava na primeira rua de terra, atrás da Vila Vicentina, nesta cidade, numa casa de tábuas; que, Bento participou de todas as investigações juntamente com o depoente, com exceção dessa diligência em Assis e Ourinhos, da qual o depoente não participou; que, o depoente tem em sua residência algumas anotações e que as enviará através de sua mulher; que, ingressara na Polícia Civil em dezembro de 1977 ou 1978, não podendo precisar; que, tem a convicção pessoal de que quem matou Mara Lucia foi Medina, pelas investigações que fez; que, o depoente no curso das investigações não chegou a conversar pessoalmente com Medina; que, o depoente não entregou nenhum relatório escrito ao Dr. Francisco de Assis Moura; que, parece ao depoente, senão lhe falha a memória que o Delegado Titular do SIG era o Dr. Jasp Pedroso; que esse relatório verbal não foi feito ao Dr. Jasp Pedroso porque para retirar o inquérito do Fórum foi preciso a interferência do Dr. Francisco de Assis Moura, que nessa época o depoente era investigador em Piratininga mas o Dr. Francisco deixou o depoente aqui em Bauru à disposição desse serviço; que, parece ao depoente que Medina chegou a trabalhar no Matarazzo aqui em Bauru; que, Medina antes de vir para Bauru, trabalhava em Cubatão, na baixada santista em local que o depoente ignora; que, segundo o depoente há bastante indícios no sentido de que Medina seja o autor do crime, mas não há nenhuma prova material nesse sentido; que, a convicção do depoente no sentido de que Medina era o autor do crime foram as seguintes: 1ª) – que, Medina havia chegado de Cubatão e estava hospedado na casa da vítima; 2ª) – as características fisionômicas de Medina em confrontação com a pessoa que foi vista nas imediações; 3ª) – as declarações da mulher de Medina ao depoente já mencionadas;4ª) – o fato de Medina estar procurando casa para alugar e o fato do corpo da vítima ter sido encontrado em uma casa desocupada; 5ª) – que a vítima não entraria numa casa acompanhada por um desconhecido; 6ª) – que quem matou a vítima a conhecia, ou seja, que o autor conhecia a vítima, razão pela qual a matou, para evitar um reconhecimento; 7ª) – o fato de Medina após esse fato ter ingressado no submundo do crime; que, a vítima era uma menina bastante esperta para entrar numa casa com um desconhecido; que, não se lembra do nome de Otacilio Vieira de Carvalho; que, na mesma ocasião fizera também uma investigação sobre um rapaz que morava em frente à casa de Mara Lucia; que, esse rapaz era viciado em drogas e era filho de um carcereiro da Polícia Civil; que teve informação que esse rapaz já é falecido; que, se recorda que o pai dele era funcionário da Delegacia de Polícia de Pirajuí na época dos fatos. (...). EM TEMPO: que, o depoente esclarece que como não é mais policial, poderá sofrer alguma represália por parte de Medina, razão pela qual deixa consignado nestes autos essa sua preocupação. "O denunciante errou o nome do seu suspeito: em vez de Roberto Medina Ugeda, o correto é João Ugeda Medina.
1.2. Clara Vieira de Carvalho em defesa do ex-cônjuge Medina
Clara Vieira de Carvalho, nascida aos 15 de agosto de 1948, em São Paulo – Capital, filha de José Vieira de Carvalho e Maria Legume, desquitada, do lar, residente à Rua Paraná, 4-29, em Bauru. Prestou depoimento aos 11 de março de 1985, na Delegacia Regional de Polícia de Bauru, onde presentes o delegado Walter Mendes. o promotor Otacilio Garms, e o advogado João Louvison Bernardes.
Clara declarou-se ex-mulher de João Ugeda Medina e não Roberto Medina Ugeda, ou que outro nome tivesse, sobrinha de João Vieira – filho de criação da sua avó, portanto ela na condição de prima da Mara Lucia, na casa de quem trabalhou até os 14 anos de idade, quando então se casou com Medina, por estar grávida; e desde seu casamento passou a residir noutra casa, e nunca mais veio a morar na casa de João Vieira e nem lá se hospedou, esclarecendo atritos entre seu marido e o tio que forçara o casamento por ela ser menor.
Que na época dos acontecimentos com sua prima Mara Lucia, em 11 de novembro de 1970, Medina estava trabalhando na construção de uma casa, no Vale do Ribeira, para os lados de Registro – SP, na Fazenda do dr. Paulo, um dos fundadores da Faculdade de Odontologia de Bauru.
Medina teria retornado para Bauru em 13 de novembro, pela manhã, para votar na eleição de 15 de novembro daquele ano, indo até a casa da mãe de Clara, onde ela residia com os filhos, e lá Medina inteirado da internação de seu filho, no Hospital Beneficência Portuguesa, onde Clara se encontrava como acompanhante do enfermo.
No encontro Clara indagou se Medina sabia dos acontecimentos com Mara Lucia, e ele nada sabia, porém mais tarde, solidário, auxiliou os familiares na procura da menina. Apenas no domingo, dia 15 de novembro, por volta do meio dia, quando retornavam do hospital com o filho, souberam pela mãe de Clara que o corpo de Mara Lucia fora encontrado.
Medina mostrou-se chateado com aquele desfecho, e até comentou que o feitor daquilo deveria ser morto. Retornou para a Fazenda do Dr. Paulo já na segunda ou terça-feira.
Inquirida, Clara declarou que não vivia bem com Medina, um namorador, e tinham seis filhos, separando-se dele em 22 de julho de 1976, com desquite homologado em 04 de março de 1977. Após separação Medina passou a conviver com outra mulher enquanto Clara e os filhos ficaram na casa por um ano, na Rua Minas Gerais, 2-61, quando se mudaram para a casa de sua mãe.
Clara, já residindo com a mãe, recebeu a visita de Bento, investigador de polícia, procurando informações sobre Medina num possível envolvimento no 'Caso Mara Lucia', e ela informou o que sabia, acreditando que Medina não seria capaz de tal ato, e declarou que nunca conversou com o investigador Dedé, além de esclarecer que Medina, quando no Vale do Ribeira, vinha para Bauru a cada quinze ou vinte dias.
Na ocasião deste seu depoimento Clara informou que esteve no Fórum, na semana anterior, em conversa com o promotor de justiça Dr. Luiz Pegoraro, outrora delegado de polícia, para a execução de alimentos devidos pelo ex-marido.
Indagada, informou que ela, o marido e os filhos, não estavam hospedados na casa de João Vieira, nem procuravam casa para alugar, quando desaparecida Mara Lucia, e nunca residiram fora de Bauru. O marido tinha casa própria onde residia a mãe e irmãos.
Sem convicção, lembra que Medina teve um processo por porte de arma de fogo, absolvido, e, em sua opinião Medina não teve participação no crime envolvendo 'Saiote' e 'Cavalcante', embora fosse motorista de táxi na época, e quando deste seu depoimento o ex-marido era dono de um bar na zona do meretrício.
Negou que Medina fosse pessoa violenta, tinham desentendimentos, mas ele nunca a agrediu fisicamente forte: "tapas de marcar nunca houve. "
1.3. Informações de João Vieira sobre o Medina
Depoimento de João Vieira prestado aos 13 de março de 1985, na Delegacia Regional de Polícia, sendo ouvido pelo delegado Walter Mendes, na presença do promotor Otacilio Garms, e da dra. Marisa Silveira, advogada militante no fórum local.
Seu comparecimento no local teve por motivação esclarecer fatos referentes a sua sobrinha Clara Vieira de Carvalho e o ex-marido desta, João Ugeda Medina.
Clara era sua sobrinha e, quando menina, entre os 12 e 14 anos de idade trabalhou em sua casa, na época à Rua Virgílio Malta, 18-17, que ela chegava pela manhã e à tarde retornava para a casa dos pais, e já namorava Medina, maior, solteiro. Que a sobrinha engravidou e ele exigiu o casamento dela com o responsável, razão pela qual ele e Medina não tinham bom relacionamento, e o casal nunca morou em sua casa ou lá estiveram hospedados, nem o Medina teria pernoitado por lá quando solteiro, somente entrando em sua casa duas vezes, uma delas por ocasião de aniversário de uma de suas filhas.
Que na época da ocorrência com sua filha Mara Lucia, Medina residia em Bauru, porém trabalhando fora não sabendo qual serviço, nem o patrão, afinal, não tinham amizades, e o ultimo eventual encontro, ocorrera em data anterior a este seu depoimento, em frente à delegacia de polícia, com a chegada de Medina enquanto ele, João Vieira, conversava com o advogado João Louvison Bernardes, este já de saída.
"Medina perguntou ao declarante se ele não o conhecia mais; que, o declarante respondeu que não conhecia; que, Medina disse ao declarante: 'e nem o meu filho você conhece?'; que, então ele mesmo disse que ele era Medina e Agnaldo seu filho; que, Medina disse ao declarante que ouviu um papo que ele seria chamado para depor; que, o declarante disse a Medina que achava que sim; que, o declarante aproveitou-se da oportunidade e disse ao Medina que esteve no Fórum com Clara para pedir a execução dos alimentos e a seguir o declarante despediu-se e foi embora."1.4. Das conclusões – mais uma vez decepcionante
O ex-investigador de polícia e depois advogado, Luiz Fernando Comegno, conhecido por Dedé, quando preso em Bauru prometeu, através de seu advogado, revelações bombásticas no 'Caso Mara Lucia'. Suas declarações dadas à polícia não impressionaram.
Quando policial civil, Dedé havia procedido investigações apontando João Ugeda Medina como o assassino de Mara Lucia. Não mostrou ser um trabalho sério, e as intenções do acusador era atingir o delegado de polícia, dr. Francisco de Assis Moura, como inoperante, que não tomara nenhuma providência quando lhe foi dado o nome do Medina como assassino de Mara Lucia.
Nem João Vieira, o pai de Mara Lucia, nem a Clara Vieira de Carvalho – mulher e depois ex-mulher de Medina e sobrinha de João Vieira, avalizaram tal hipótese, e o caso não teve prosseguimento.
Conforme vista, o relatório apresentou-se como mero índice remissivo aos depoimentos colhidos e constantes do terceiro volume, mencionando as páginas onde cada depoimento, e ter como encerramento a afirmação da continuidade das investigações para se encontrar o autor do crime.
Já ninguém acreditava. A polícia outra vez apresentava resultados pífios, se perdendo nas tantas versões para o crime.
2. O investigado Milton Martinho Ribeiro
O Inquérito Policial de nº 10/71, arquivado desde os 14 de agosto de 1974, teve averiguações policiais, extra-autos, em 1978, diante de novos fatos trazidos pelos investigadores de polícia, Luiz Fernando Comegno, o Dedé, e Manuel Bento Ferreira, ao delegado regional dr. Francisco de Assis Moura.
Os próprios investigadores foram designados pelo delegado para que procedessem investigações visando elucidar o 'Caso Mara Lucia'. Bento e Dedé iniciaram averiguações juntos, porém o Dedé a concluir que João Ugeda Medina fosse o criminoso, enquanto o Bento, ao enveredar-se por outros caminhos investigativos, apontou como assassino o Milton Martinho Ribeiro, ex-motorista policial, toxicômano inveterado.
2.1. O que disse o investigador Manuel Bento Ferreira
O investigador de polícia, Manoel Bento Ferreira, nasceu em Pirajuí – SP, aos 04 de maio de 1938, filho de Benedito Bento Ferreira e de Ambrosina Vieira, residente em Santos, à Rua Liberdade nº 242, apartamento 72, Bairro Embaré, quando deste depoimento, aos 21 de março de 1985, perante ao delegado Walter Mendes, e do promotor Otacílio Garms Filho:
"(...); que, veio trabalhar em Bauru por volta de 1973; que, mais ou menos no ano de 1979 ou 1980 o depoente fora incumbido pelo Dr. Francisco de Assis Moura, na época Delegado Regional desta cidade, para que, em companhia do Investigador Luiz Fernando Comegno, vulgo 'Dedé', procedessem investigações para tentar elucidar o caso 'Mara Lucia'; que, então o depoente juntamente com 'Dedé' passaram a fazer várias diligências naquele sentido; que, esclarece melhor que na realidade foram incumbido pelo Dr. Francisco para que 'checasse' uma suspeita que havia recaído sobre Medina Ugeda; que, esse Medina vinha a ser tio da Mara Lúcia, em virtude de haver se casado com uma tia daquela pequena vítima; que, a tia de Mara Lucia casada com Medina chama-se Clara; que, na época dessas investigações procedidas pelo depoente e por 'Dedé', Clara já se encontrava separada de seu marido Medina; que, no caso específico de Clara, o depoente trabalhou sozinho praticamente; que, após vários contatos com Clara chegou a conversar com a mesma mais demoradamente e onde obteve informações de que, não obstante Clara estar separada de Medina de que Clara não indicava Medina como sendo o autor desse crime; que, se lembra que Clara disse que seu marido 'não prestava', porém não acreditava que ele tivesse praticado um crime daquele tipo; que, as investigações procedidas não chagaram a levar o depoente à conclusão de que era o Medina ou não era Medina o autor desse crime; que, particularmente acha que não é Medina o autor desse delito; que, antes dessas investigações para 'checar' Medina, o depoente procedeu outras, tendo como suspeito um ex-motorista policial que se chamava Milton Martinho Ribeiro; que, esse Milton, o depoente acreditava bastante que pudesse ter sido o autor do crime de que foi vítima Mara Lucia; que, Milton era toxicômano e veio a falecer em virtude desse seu vício, segundo se apurou; que, com a morte de Milton as investigações foram paralisadas; que, pessoalmente não sabe dizer quem foi o autor desse crime; que, certa feita, por determinação do Dr. Reinaldo Brandão, foi até, digo, o depoente foi até a cidade de Ourinhos a fim de entrar em contato com uma irmã de Mara Lucia, que lá residia; que, essa irmã de Mara Lucia chama-se Izabel, se não lhe falha a memória; que, havia chegado ao conhecimento do Dr. Reinaldo que Izabel, irmã da vítima, quando dormia delirava; que, durante este delírio, falava o nome de seu pai portanto pai de Mara Lucia também, como sendo o criminoso; que, ao conversar com Izabel a mesma não confirmou esse fato e disse mais que isso não era verdade; que, e que também não era verdade esse problema de delírio noturno; que, portanto nada daquelas suspeitas que motivaram a ida do depoente a Ourinhos, se confirmaram; que, depois nenhum fato novo surgiu; que, o depoente volta a afirmar que acreditava muito na suspeita de Milton Martinho Ribeiro, ex-motorista policial, que poderia ser o autor, que falecera conforme já ficou consignado; que, após as investigações já mencionadas apresentaram ao Dr. Francisco apenas um relatório verbal daquilo que foi feito; que, não se recorda se Clara havia dito ao depoente, na ocasião, se havia morado na casa de Mara Lucia com Medina."Com o depoimento de Manuel Bento Ferreira o delegado Walter Mendes, determinou providências para verificar se Martinho esteve internado e veio a falecer no Hospital Psiquiátrico Dr. Fauzer Banuth, em Bauru, e igualmente solicitou informações à Penitenciária de Avaré, se lá o suspeito cumpriu pena e veio a falecer.
Martinho não foi sentenciado a cumprir pena na Penitenciária "Dr. Paulo Luciano de Campos", em Avaré, conforme ofício nº 3376, de 06 de julho de 1987, daquele estabelecimento penal .
Bento no livro 'Um Policial embaixo do Pé de Café', de sua autoria, afirma o assassino de Mara Lucia embasado nas declarações de um irmão do implicado.
2.2. O testemunho de Washington Paroneto de Andrade
Aos 27 de março de 1985, o delegado Walter Mendes, fez juntar aos autos do reaberto Inquérito Policial de nº 10/71, antigo depoimento de Washington Luiz Paroneto de Andrade, datado de 12 de setembro de 1978, na Delegacia de Polícia do Município de Bauru, na presença do então delegado dr. Ataíde Antonieti de Almeida.
Paroneto, nascido em Tanabi – SP, aos 24 de janeiro de 1945, filho de Jesus Garcia de Andrade e Diva Paroneto de Andrade, residente à Rua São Paulo nº 760, em Votuporanga (SP) na época do depoimento.
Inquerido pela autoridade respondeu ter ingressado no serviço público no ano de 1969, como investigador de polícia, em Jales – SP, passando depois pelas localidades de Andradina, Botucatu, Catanduva e São Paulo – Capital.
Frequentemente vinha a Bauru, pelos vínculos familiares de sua esposa, e em 1972 ou 1973, conheceu Milton Martinho Ribeiro, um motorista policial, e se tornaram afins pelo uso de drogas.
No ano de 1973, numa manhã, sem se lembrar o dia e mês, trafegava com seu carro pela Avenida Rodrigues Alves quando chamado por Martinho e daí juntos rumaram a Agudos à procura do 'João da Banda', conhecido fornecedor de 'sal de anfetamina'.
De posse da droga e retornando a Bauru em companhia de 'João da Banda', encontrou duas garotas, suas conhecidas de vista, uma delas por nome Rosilene, talvez Eloísa, e combinaram um 'programa' à beira do Tietê, em Pederneiras, onde chagaram à tardezinha, com coisas para comer e beber – cervejas e cachaça, além das drogas, alojando-se num rancho de pescadores.
Todos fizeram uso de droga, tomaram cerveja e comeram feijoada enlatada, e só o Martinho tomou pinga, excedendo-se e não conseguiu relação sexual com uma das acompanhantes, irritando-se e a ofende-la moralmente, que tal não era o seu tipo, pois ele gostava de 'meninas novas', como Mara Lucia, e repetiu isto, mudando completamente sua personalidade, a causar perplexidades a todos, e a partir de então, um clima tenso, contudo já noite, permaneceram no local onde pousaram.
No retorno a Bauru, superados problemas pneumáticos no veículo, Paroneto percebeu Martinho relutante, que desceu próximo a zona do meretrício, já na cidade, depois deixou as jovens na Praça Rui Barbosa e a seguir levou o 'João da Banda' até Agudos.
Dias depois, ainda em Bauru, defronte a 'Farmácia Droganova' na Avenida Rodrigues Alves, Paroneto encontrou os conhecidos Carlos Martins, alcunhado 'Boca Mole', e o Geraldo, vulgo 'Geraldão', e lhes contou o ocorrido com Martinho que, desde então, esfriara as relações com ele.
Paroneto, na época investigador de polícia, solicitou colaboração para saber a efetiva participação de Martinho no 'Caso Mara Lucia'; e 'Geraldão' afirmou que Martinho usava a casa, onde encontrado o corpo de Mara Lucia, para drogar-se.
Casualmente encontrou o Martinho numa das ruas e o convidou para tomar 'picadas', pensando refazer a amizade, e se dirigiram até a Santa Casa local para obterem receituário de 'Desbutal' com o médico Dr. Antonio Azevedo, conseguindo o medicamento na 'Droganova'.
Na oportunidade, observando as condutas de Martinho, Paroneto percebeu-o com 'tesão' manifesto em duas meninas vistas, menores entre os dez e doze anos, com gesto de tara expresso 'num sugar de dentes', falando que aquelas eram garotas do tipo de se levar para o mato, munido com uma cordinha, a dar impressão de 'curra', porém se esquivou em responder se de maneira igual ao acontecido com Mara Lucia.
Paroneto foi exonerado do serviço público no ano de 1975, por abandono de cargo, esteve internado para tratamento contra drogas, trinta dias em Bauru e doze em São José do Rio Preto, e soube de 'João da Banda' residindo em Garça, bem como manteve contatos com Martinho, na casa deste, ainda defronte onde residira a família de Mara Lucia.
Nunca Martinho abrira-se com ele sobre a morte da menina, mas sempre fazia aquele gesto de desejo sexual quando via garotas da idade de Mara Lucia.
Não consta nenhum outro depoimento de Paroneto.
2.3. O depoimento de Leila de Lourdes Codogno
O delegado Walter Mendes, ainda aos 27 de março de 1985, fez anexar o depoimento de Leila de Lourdes Codogno, prestado extra-autos na Delegacia de Polícia de Polícia de Bauru, onde na época o delegado Ataíde Antonieti de Almeida.
Leila, nascida aos 18 de novembro de 1958, em Ibitinga – SP, filha de Alcides Codogno e Benedita Gonçalves da Rocha, amasiada, do lar, residente à Rua Clóvis de Barreto, 4-59, Jardim Europa – Bauru.
Sem se recordar do ano, mês e dia, estava com a amiga Eloisa, não sabe o sobrenome, na Praça Rui Barbosa quando se encontraram com alguns rapazes que as convidaram para um passeio em um dos rios nas proximidades de Bauru, convite aceito, e num veículo Volkswagen deixaram o perímetro urbano e num estabelecimento comercial compraram alimentos e bebidas antes de seguirem para o local escolhido, não sabendo ao certo onde.
A jovem ficou com Washington e a amiga com o Martinho, e num rancho à beira do rio pernoitaram sobre duas mesas, sendo que os rapazes consumiram drogas, bebidas e praticaram sexo, e em determinado momento Martinho se pôs a discutir com Eloísa, por não consumar o ato sexual, precisando da interferência de Washington num acalorado bate boca, mas não se lembra do assunto e nem se Martinho e Eloisa terminaram a noite juntos, sendo quase certo que não.
Ao amanhecer, lembra-se Leila, que ela, Eloisa e Washington entraram na água para banharem-se, antes da viagem de retorno a Bauru, com o veículo apresentando problemas. Já na cidade de destino, Martinho desceu próximo à zona do meretrício, e ela, com a amiga, adjacente à residência desta última.
Finalizou o seu depoimento dizendo que voltou a se encontrar com Washington, mas não se recorda de alguma saída com Martinho, e não fez referência quanto a presença de 'João da Banda' no grupo.
2.4. Informações adicionais sobre o Martinho
A polícia não conseguiu localizar Eloisa ou Rosilene, a segunda mulher citada nos depoimentos, que teria ouvido Martinho dizer sua preferência por meninas na faixa etária de Mara Lucia.
Quanto a Martinho, sabe-se que o mesmo nasceu em Indiana – S.P, aos 08 de fevereiro de 1943, filho de Antonio Martinho e Jandira Ribeiro Martinho, morador com os pais defronte à casa da vítima Mara Lucia.
Martinho foi motorista policial, e seu pai policial civil – carcereiro. Contra ele nada se provou, e já era falecido em 1985.